Os atentados às torres gêmeas ocorridos
em 2001 trouxeram mudanças profundas para toda a economia mundial, sobretudo no
valor do petróleo. Praticamente todos os setores da indústria sentiram a alta
dos combustíveis, mas são poucas as atividades que são tão sensíveis a esta
dificuldade quanto à aviação comercial.
Não demorou até que o consumo de 15.000
litros de querosene para cada hora de voo do majestoso Boeing 747-400 começasse
a ser custoso demais para as empresas aéreas, considerando a queda brusca na
procura pelas passagens.
Somando os problemas financeiros à nova
onda de preocupação com o meio ambiente que começava a surgir, a necessidade de
um avião moderno e econômico era evidente. Depois de quase dez anos de
desenvolvimento, pesquisas e atrasos, a resposta da Boeing a esta tendência
finalmente veio, com o 787 Dreamliner.
O avião do século XXI
Assim que a Boeing anunciou estar aberta para encomendas do novo avião em 2007,
o 787 já bateu um recorde, o de maior número de pedidos antecipados para um
jato comercial. Mais de 50 clientes diferentes encomendaram 677 unidades, com o
início das entregas datado para 2008.
Porém, o primeiro Dreamliner só iria
ganhar os ares “vestindo” as cores de uma companhia aérea no final de setembro
de 2011, três anos depois do prometido. Além disso, desenvolver e construir a
aeronave dos sonhos também provou ser mais difícil e caro do que se esperava,
considerando que o custo total do projeto já alcançou os US$32 bilhões.
Economia de combustível
A primeira e mais importante inovação a ser notada é a economia de combustível.
Somando a alta eficiência dos novos motores aos materiais mais leves e à
aerodinâmica aprimorada, o 787 consegue ser até 20% mais eficiente do que qualquer
outro avião do mesmo porte.
Além disso, o Dreamliner pode operar
tanto com turbinas Rolls-Royce quanto com as General Electric, conferindo às
companhias mais flexibilidade quando for necessária a manutenção. Outro aspecto
importante (principalmente para quem mora próximo aos aeroportos) é o ruído
reduzido que os motores produzem.
Foto do motor
sso por que a Boeing também investiu
bastante no silêncio, resultando em novos processos de montagem e materiais no
motor que podem absorver o ruído. Dessa forma, o 787 não só causa menos
perturbação durante os pousos e decolagens, mas também se isenta de pagar a
taxa obrigatória que algumas cidades cobram por excesso de barulho.
Materiais modernos
As asas, fuselagem e muitas outras
partes do avião foram construídas com fibra de carbono reforçado em vez do
tradicional ferro e aço, fazendo com que a aeronave fique muito mais “magra”,
sem perder sua resistência.
Apesar de já estar em uso há muito
tempo na aviação militar e em outros campos, a fibra de carbono tem sido pouco
adotada na aviação comercial por não deixar transparecer o desgaste sofrido ao
longo do tempo. Sem a ferrugem e as rachaduras, fica mais difícil fazer a
inspeção periódica que, até hoje, é quase que totalmente visual.
A Boeing respondeu a este anseio pelo novo material realizando um
extensivo programa de testes. Entre eles, está a queda ensaiada de uma seção da
fuselagem montada a uma altura de 4,6m. Outro teste submeteu o corpo do avião a
uma pressão 150% maior do que a esperada em condições normais de voo, mostrando
que o material era resistente e confiável o suficiente para o 787.
Outro aspecto notável é processo de montagem da fuselagem:
diferente do método tradicional, que usa dezenas de folhas de alumínios presas
por mais de 50mil rebites, o Dremliner usa meia dúzia de tubos montados
previamente, que depois são unidos para formar o corpo do avião.
Melhor para os pilotos e
passageiros
Mas não são apenas as companhias aéreas que aproveitam as
vantagens do novo avião da Boeing. O Dreamliner também trouxe muita inovação
para a cabine dos passageiros e para os aparelhos de pilotagem, tais como:
HUD “de série”
Assim como nos aviões de combate, o 787 também trás visores HUD (Head-Up
Display) em todos os modelos, permitindo que os pilotos visualizem os
auxiliadores de aviônica através de uma tela que projeta uma espécie de
realidade aumentada na altura dos olhos.
Mais processadores, menos relógios
Cabine 2
A maioria dos relógios e ponteiros que se via na cabine foi
substituída por versões digitais em telas de LCD. Outros foram simplesmente
omitidos, considerando que o alto grau de inteligência artificial do avião tira
o trabalho do piloto de ficar monitorando dezenas de contadores e reguladores.
Janelas “mágicas”
Uma das características que mais chamou a atenção dos primeiros
passageiros que puderam experimentar uma viagem no 787 foram as janelas amplas
e modernas. No lugar da velha cortininha de plástico, o Dreamliner usa um
sistema eletrônico que faz o vidro da janela ficar mais claro ou mais escuro,
algo parecido com as lentes dos óculos que se escurecem com o sol.
A mágica fica por conta de uma fina camada de tinta eletrocrômica
entre o vidro interno e externo, que reage de maneiras diferentes de acordo com
o pulso eletrônico. A tripulação pode ajustar um nível mínimo de iluminação em
todas as janelas para aumentar a eficiência do ar-condicionado quando o avião
estiver em terra, especialmente em regiões mais quentes.
Viagens menos turbulentas
Foto da asa
O formato distinto das asas, combinado
com um sistema inteligente que regula a superfície alar, também faz o
Dreamliner passar mais suavemente pelas correntes de vento turbulento. A Boeing
garante que os passageiros do 787 vão se sentir oito vezes menos enjoados
durante uma turbulência, além de menos aterrorizados.
O futuro do 787
A Boeing mantém uma impressionante cota
de 797 unidades do Dreamliner para serem entregues, o que torna o 787 o avião
mais bem-sucedido da história da empresa, mesmo que apenas dois deles estejam
voando nas mãos de uma companhia aérea hoje.
Apesar do preço inicial de cada um ter
subido dos US$ 120 milhões estimados para 2007 a quase US$152 milhões cobrados
atualmente, a empresa continua otimista que os pedidos continuarão a subir.
Atualmente, duas variantes do Dreamliner estão sendo produzidas: o 787-8, com
capacidade para 250 passageiros e o 787-9, com 290 assentos.
Uma terceira versão com a fuselagem
mais estendida pode estar programada para um futuro próximo, a 787-10. Essa
variante iria sacrificar uma parte da autonomia em troca do aumento de 290 para
310 assentos.
A empresa de aviação comercial dos Estados Unidos ainda se mantém
otimista sobre o futuro do Dreamliner, afirmando que as vantagens que o fazem
ser considerado o primeiro avião do novo século superem os pequenos
“contratempos” sofridos durante o projeto e desenvolvimento
BOING 787